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Sunday, March 02, 2008

SUMMUM JUS, SUMMA INJURIA.

02 de março de 2008 |

Artigo meu publicado no Jornal Zero Hora no dia de hoje

"Summum jus, summa injuria", por Aloyzio Achutti*


Eu era guri quando, em minha terra natal, construíram um novo Fórum e este dístico estava sobranceiro, colocado em pedra no edifício. Aprendi que a tradução seria: "Um excesso de justiça pode ser causa de grande injustiça (dano)". Não tardou para trocarem a frase por "Dura lex, sed lex", provavelmente como reação corporativa, ou arrogância de linha-dura, facilmente encontrável em qualquer tempo e lugar.

É bom pensar no assunto enquanto está viva a discussão sobre Tropa de Elite, e o terrorismo a propósito e contra o "terrorismo" internacional. É pena, mas em nome da religião, da ciência, em defesa de princípios e de nobres causas, muitas vezes - com boas intenções - se manifestam instintos discriminatórios e se justificam violências.

Há também os oportunistas que descobrem mercado nas vicissitudes e passam a investir no filão, não se importando muito com as conseqüências. E para cada argumento que encontra eco, juntam-se facilmente grupos de prosélitos e acólitos a reverberar sem crítica as mensagens estereotipadas.

Pois a medicina - arte e ciência - está também sujeita às mesmas contingências. Há exemplos muito variados, basta trocar "jus/injuria" por "saúde/doença". A propósito, recentemente um estudo que pretendia demonstrar vantagens em obter em diabéticos níveis de glicose no sangue iguais aos de pessoas sadias teve que ser interrompido porque a mortalidade no grupo do tratamento exagerado foi maior do que no controle.

Bem cedo, ainda na faculdade, se aprende que criança não é um adulto em miniatura e que velho não é simplesmente um adulto com muita idade. Está-se chegando agora à idéia de que uma pessoa doente não é a mesma coisa do que uma sadia com parâmetros biológicos anormais.

As "metas" para prevenção em pessoas normais, nem sempre serão as ideais para os doentes. O reconhecimento da biodiversidade, a individualização das prescrições e o respeito pela relação humana médico-paciente são fundamentais e não se alteram com novas conquistas científicas e tecnológicas. Pelo contrário, quanto mais poder, maior o risco de dano.

Voltando às frases lapidares (latinas) - mesmo em nome da prevenção - , nada justifica passar por cima do refrão que se aprende no primeiro dia de aula: "Primum non nocere". O primeiro preceito da medicina é não causar dano.

*Médico

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